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O próprio significado da palavra vaidade traz uma conotação bastante negativa –
Vaidade: “qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória” ou “valorização que se atribui à própria aparência, ou quaisquer outras qualidades físicas ou intelectuais, fundamentada no desejo de que tais qualidades sejam reconhecidas ou admiradas pelos outros”
Nossa cultura atual preza muito por uma boa aparência, boas roupas e boa apresentação – pois bem, descobrimos que a nossa vaidade aparece mesmo quando ela não é constantemente estimulada. Em uma vida normal – lá em São Paulo, por exemplo, somos estimulados (direto ou indiretamente) a nos vestir bem, a ter uma boa aparência, cortar bem o cabelo, fazer as unhas, etc.

Eu – Thalia – por exemplo, trabalhava em cima de um shopping bem famoso na zona sul de São Paulo, portanto, a cada descida para tomar um café ou algo corriqueiro, você já era incentivada (mesmo que inconscientemente) a estimular a sua vaidade – simplesmente, ao dar algumas voltas pelos corredores do shopping. Ali, eu fazia tudo: mexia no cabelo, fazia as unhas, fazia depilação, comprava roupas… tudo, em prol de me sentir mais bonita.

Pois bem, hoje em dia, não tenho nenhuma destas facilidades e, convenhamos, ninguém me conhece por onde temos passado, além de não termos muitos compromissos que requerem uma apresentação impecável. Sendo assim, não tenho a minha vaidade estimulada como eu tinha em São Paulo. A vida de viajante é muito diferente – você não tem acesso a muitos espelhos. Quando você mora em uma casa e tem uma vida normal, você é rodeada de espelhos, não? Já a nossa vida atual não envolve muitos espelhos, principalmente quando a agente acampa. Não há espelhos pela natureza, rs.
E neste tempo todo, algumas coisas também mudaram: eu mesma faço a minha sobrancelha; eu não faço as unhas a um ano e tenho cortado meus cabelos com menos frequência do que que quando vivia em São Paulo (que costumava ser a cada 3 meses, por exemplo). Mas nada disso foi um sacrifício. O fato é que você se adapta ao ambiente que você está inserido…
Vamos usar nossas roupas como exemplos – quando saímos para esta viagem, escolhemos as roupas mais bonitas e mais descoladas para levarmos. Seis meses depois, nós nos vimos substituindo praticamente todas elas – porque? Elas não eram as mais confortáveis. E como só podemos circular com poucas roupas e as roupas fazem uma grande diferença na nossa qualidade de vida, nós, inevitavelmente, escolhemos as que melhor nos vestem e que são mais práticas para nós. Elas são as mais bonitas? Não. Mas tudo bem, pois ninguém te conhece no caminho, então, inconscientemente, você se preocupa menos com a sua aparência.
Ao mesmo tempo que isso te dá uma sensação enorme de liberdade, isso também nos fez refletir sobre como não devemos deixar nossa vaidade sumir, mesmo que ninguém te conheça no caminho pois, você pode facilmente se acostumar a “não ligar para a sua aparência”. Afinal de contas, a sua rotina é outra: suas roupas são sempre as mesmas, você tem POUCO de tudo, você não vai ao salão de beleza, você usa pouca ou quase nada de maquiagem…


No nosso caso, fazemos um esforço consciente de manter um nível saudável de vaidade e ela aparece quando menos esperamos. Ela se desperta quando sentimos que a adormecemos demais. E chegamos à conclusão que, sim, um grau de vaidade é saudável e também necessário.
Luciano Salamacha diz que a vaidade extrema é um defeito mas a falta dela também é um defeito. A falta de vaidade também pode indicar falta de amor próprio. Portanto, o alarme da vaidade aparece quando você menos espera – e aparece por iniciativa própria. Podemos dizer que a nossa vaidade se modificou em sua essência – ela tem muito mais a ver com a nossa auto-estima e sentir-se bem consigo mesmo do que com preocupar-se com a aparência em prol dos outros ou de alguma moda.
Ao vestir roupas comuns e estar com uma aparência comum, nós nos inserimos ao contexto normal do mundo. Nós nos tornamos absolutamente normais. E sabe o que acontece quando você se torna simplesmente normal? Todo o seu tratamento é genuíno. Ninguém vai te olhar diferente nem vai se aproximar por interesse – tudo que lhe aproximar será muito mais genuíno, seja algo positivo ou algo negativo.

Assim, descobrimos uma vaidade diferente – uma vaidade que se distancia desta conotação que conhecemos hoje – ela é algo muito mais positiva do que negativa.