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Moramos em Florianópolis por alguns meses. Na ilha, conhecemos a família Zapp. Esta família, inicialmente formada por Herman e Candelaria Zapp, ambos argentinos, começaram sua jornada ao redor do mundo em 2000 e hoje, estão de regresso à Argentina. Tivemos o prazer de conhecê-los no seu caminho de volta.

Não queremos contar sua história aqui, pois eles fazem isso melhor que nós, mas sim compartilhar como fomos impactados por este encontro e convívio.

A viagem é feita num Graham Paige, ano 1928. Este é um carro cuja montadora sequer existe mais! Eles partiram sós e estão voltando com 04 filhos, cada um nascido em um país diferente.
Ainda que a gente pense que não, a vida é feita de influências. Somos influenciados por tudo que nos rodeia, desde que nascemos, seja mídia, amigos, professores… Quando a influência faz sentido, você a internaliza e isso impacta sua vida. Vira parte de você. Esta influência nos marcou.
Durante o tempo que passamos juntos, pudemos ver uma forma de viver diferente daquela que estamos acostumados e isto nos levou a questionar nosso próprio status quo.
PRECISAMOS ESTAR SEMPRE ABERTOS A NOVAS EXPERIÊNCIAS MAS TAMBÉM A RECEBER AJUDA.
Para realmente viver uma viagem e para realmente experenciar, precisamos estar abertos a receber ajuda por onde passamos. Saímos para a nossa expedição levando absolutamente tudo que precisamos e possivelmente tudo que não precisamos também. Tudo isso para não ter que depender das pessoas e para evitar passar dificuldades. Provavelmente, nosso primeiro erro.
O que acabamos não notando é que, se chegamos num local com tudo que precisamos, sem a necessidade ou até mesmo vontade de trocar experiências, sairemos daquele local sem realmente ter vivido as pessoas e a cultura do local.
Claro que vai do estilo de cada um e talvez até de fases da vida, mas são nos momentos onde você precisa das pessoas em que mais aprendemos sobre as próprias pessoas e sobre o local onde estamos. Somos criados para sermos sempre independentes e muitas vezes temos vergonha, ou até mesmo nos sentimos mal quando recebemos ajuda, né? Pois é, também estamos reaprendendo a aceitar uma gentileza – e, em pouco tempo, já temos inúmeros exemplos.

Quando você recebe ajuda, isso gera um sentimento bonito em você, principalmente quando é num momento que você precisa — numa viagem de longo prazo, isto é quase inevitável. E, sem querer, você é estimulado a querer fazer o mesmo por outras pessoas. Sendo assim, torna-se um efeito cascata. Da expressão em inglês: “What goes around, comes around”.
QUANDO VOCÊ PREPARA SUA MENTE PARA ESTAR OK COM PROBLEMAS E DIFICULDADES, TODA A VIAGEM E POSSIVELMENTE, SUA VIDA, MUDAM.
Numa viagem, assim como na vida, as coisas nem sempre acontecem como esperamos e como planejamos. É quase certo termos que mudar os planos constantemente, além de nos depararmos com “perrengues” frequentes.
Já imaginou voltarmos de viagem depois de 1 ano e sermos perguntados: Como foi a viagem? Daí, nós respondemos com apenas: foi tudo bem, tudo ok e sob controle – quão chato seria? As principais histórias de vida geralmente são de dificuldades e problemas superados. Além de gerar boas risadas depois, estes momentos são os que mais marcam experiências e te fazem crescer como ser humano.
Quando aceitamos que nem tudo acontecerá da forma mais confortável e planejada possível, tudo que vem depois chega a você de forma mais sutil. Quando intencionamos esta forma de pensar, automaticamente, espantamos e deixamos de ter muitos medos que geralmente crescem conosco: medo de não dar certo, medo do que você não conhece, dentre outros.
Mais uma vez, todos os nossos costumes nos levam a esquivar e evitar ao máximo as dificuldades da vida; contudo, esta viagem já veio para mostrar que não temos controle de tudo e que estamos OK com isso.
CRIANÇAS DEVEM EXPLORAR E BRINCAR, NADA MAIS.
Herman e Candalaria tiveram quatro filhos durante sua expedição ao redor do mundo. Crianças que nasceram e só conhecem o mundo viajando. Não conhecem a rotina como nós a conhecemos, mas fazem tudo que nós fazemos quando crianças, de uma forma diferente.
Convivemos com as quatro crianças e pudemos vê-las totalmente desprendidas de qualquer padrão e vergonha que conhecemos. Tudo é motivo para brincar e explorar – em qualquer ambiente e com qualquer pessoa. Elas estão sempre satisfeitas e felizes com a realidade posta, que pode mudar diariamente, seja dormindo em sua barraca de teto ou dormindo em uma casa confortável, a convite das pessoas que vão conhecendo.
Não vimos os pais falarem “cuidado” ou “não faça isso” em nenhum momento. E estas são expressões bem comuns em nosso vocabulário de pais e filhos, não? E ainda assim, há um enorme senso de cuidado e segurança entre todos.

As crianças, instintivamente, conhecem a responsabilidade de ajudar ao próximo: vimos Tehue, de 15 anos, cozinhar uma sobremesa para um evento. Vimos todas as crianças fazerem “mutirões” de limpeza e “mutirões” de carga e descarga do carro. Nos parece que o cuidado e instinto de ajuda ao próximo vêm automaticamente, visto que toda vivência nasce a partir do forte vinculo entre eles. Portanto, se ajudar parece natural.
Alguns paradigmas já foram quebrados pra nós e já refletimos que há outras formas de viver e levar a vida. Quando há sonhos e desejos genuínos por trás de suas ações, você cativa muito mais facilmente e muito mais naturalmente.

A história desta família mostra que, quando você traz as pessoas para conhecer e viver seus sonhos, estas são cativadas e as mesmas fazem questão de fazer parte de sua história.
Esta foi a nossa experiência. Podemos dizer que fizemos parte do sonho da família e, sem dúvidas, muita gente já fez e ainda fará parte do nosso sonho.